O risco de exposição é elevado?
A nível dos países asiáticos onde a Medicina Tradicional Chinesa se encontra disseminada e há medicamentos contendo acónito, os casos de intoxicação são relativamente mais frequentes. Nesses casos, as principais causas de intoxicação com esta planta são devido a uma má utilização dos medicamentos: toma de dose excessiva ou processamento inadequado das raízes. (4)
Nos países ocidentais, cada vez mais se tem assistido a uma importação de terapias alternativas à medicina convencional. A Medicina Tradicional Chinesa tem ganho popularidade em Portugal, havendo numerosas instituições que dão formação na área e estando a sua prática regulada por Decreto de Lei. Sendo assim, será expectável que cada vez mais ocidentais comecem a utilizar medicamentos à base de plantas (nomeadamente Aconitum spp.) que até aqui só eram usados pela população asiática. Um inquérito que questionou 95 organizações britânicas praticantes de Medicinas Alternativas mostra que a maioria dos praticantes não informa devidamente os seus pacientes acerca da possibilidade da ocorrência de efeitos adversos nem faz o acompanhamento póstumo para avaliar se estes ocorreram. (3)
No entanto, atualmente os casos de intoxicação por Aconitum spp. em países ocidentais são raros. Os casos descritos são devido a uma exposição acidental ou até mesmo uso da planta em suícidios e homícidios, especialmente em relação à espécie Aconitum napellus. Para informação adicional sobre casos concretos de intoxicação com acónito consulte a seção Casos Clínicos.
É possível que os números de casos de morte associada a exposição acidental a acónito estejam sub-representados na literatura, visto que muitas vezes os sintomas de intoxicação assemelham-se a sintomas de acidente vascular cerebral. Por outro lado, nem sempre é possível estabelecer uma relação entre os sintomas do paciente e uma exposição prévia à planta: por exemplo, a exposição pode não ter sido intencional e o paciente não se recordar; ou, tendo em conta que é raro, os clínicos podem não se lembrar de questionar acerca dessa hipótese.
Quais as vias de exposição a que estou sujeito?
Via oral (ingestão) e via dérmica (absorção percutânea). (8)
A maioria dos casos de toxicidade é devido à ingestão da planta. Essa ingestão pode ser acidental (por exemplo, em caso de crianças e animais de estimação, ou em caso de adultos que não conhecem a planta e a confundem com outras plantas, ou ainda através da toma de medicamentos.
Há alguns casos de toxicidade por exposição dérmica à planta, apesar destes serem ainda mais raros. Em alguns casos há exposição direta à planta e noutros casos há exposição à tintura. (7)
A toxicidade da planta manifesta-se de imediato (toxicidade aguda) ou a longo prazo (toxicidade crónica)?
A toxicidade causada por acónito é aguda. Os primeiros sintomas surgem 1h a 2h após ingestão, dependendo muito da dose de álcalóides existente na planta. (8)
Não existem dados acerca de efeitos do uso de acónito a longo prazo. (8) Tendo em conta que esta planta não tem utilizações terapêuticas na medicina convencional e que em termos de medicina tradicional chinesa não existem registos sistemáticos da sua utilização, o seu uso crónico não se encontra bem documentado na literatura.
Quais os grupos de risco para toxicidade por Aconitum spp.?



Utilizadores de Medicina Tradicional Chinesa
As espécies de Aconitum spp. tem uma grande tradição de uso a nível da Medicina Tradicional Chinesa. Além dos usos medicinais, determinadas populações chinesas utilizam o acónito na culinária. Para saber mais sobre as utilizações do acónito, clique aqui.
Há vários casos relatados de intoxicação pelo uso indevido das várias espécies desta planta em vários países do Sudeste Asiático (Japão, China, Índia, entre outros) pelo que foram estabelecidas regulações apertadas relativamente ao uso desta planta. Por exemplo, a entidade reguladora dos medicamentos chinesa (SFDA – State Food and Drug Administration of China) apenas permite o uso de tubérculos e raízes após terem sidos devidamente processados e destoxificados.
Se é utilizador de medicamentos tradicionais chineses ou se pensa vir a utilizá-los, verifique o rótulo para identificar a sua composição. Caso contenha acónito, não ultrapasse a dose recomendada pelo rótulo. De preferência, consulte um especialista em medicina tradicional chinesa, naturopatia ou fitoterapia de forma a que este lhe possa indicar como utilizar corretamente e com segurança esse tipo de medicamentos.
Outros grupos de risco
É necessário ressalvar os riscos de intoxicação acidental por esta planta em crianças (5) ou até mesmo em animais de estimação (6). Apesar de não haver casos descritos na literatura, essa possibilidade está descrita. O facto da planta ter cores apelativas pode aumentar o risco de ingestão ou de exposição por via cutânea. Já houve registo de um caso de um jardineiro que morreu após ter contactado com a planta (ver notícia).

Figura 1 - Resumo dos principais grupos de risco suscétiveis a toxicidade por Aconitum spp.
Como prevenir intoxicações por Aconitum spp.?
Para evitar a ocorrência de intoxicações com acónito deverá ter os seguintes cuidados (9)
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Se tiver crianças ou animais de estimação tenha cuidado com as plantas que cultiva no seu jardim. Não cultive plantas tóxicas nem as use para enfeitar a casa.
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Conheça as características e nome das plantas que existem em sua casa e em espaços que frequenta.
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Ensine as crianças a não colocar as plantas na boca.
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Nunca coma plantas de origem desconhecida.
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Não use remédios caseiros sem supervisão de um médico.
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Se pretender usar uma terapia alternativa tal como Medicina Tradicional Chinesa informe-se bem acerca dos riscos e benefícios desta. Os medicamentos prescritos nesse tipo de terapias não está sujeito ao mesmo tipo de regulamento e controlo que os medicamentos convencionais, pelo que deverá sempre analisar o rótulo e suspender a toma caso sinta algum efeito adverso anormal.
O que fazer em caso de intoxicação aguda por Aconitum spp.?


Não há antídoto para casos de intoxicação aguda por acónito.
Dependendo da dose a que esteve exposto e da via de exposição, os sinais podem demorar mais ou menos tempo a surgir e serem mais ou menos graves.
Nos casos descritos na literatura é necessário hospitalização para serem administradas medidas de suporte básico de vida e controlar os sintomas cardíacos e neurológicos.
Caso já esteja a ter sintomas de intoxicação (ver aqui quais os sintomas) ou tenha fortes suspeitas de ter ocorrido exposição deverá dirigir-se de imediato ao hospital mais próximo ou contactar o 112.
Deverá informar os profissionais de saúde que esteve exposto à planta de forma a ser possível administrar o melhor tratamento o mais rápido possível.
Percepção de Risco
Tendo em conta que atualmente os meios de comunicação social se encontram disseminados, qualquer informação veiculada por estes irá moldar a opinião do público sobre o assunto.
Se por um lado podem ser instrumentos úteis para alertar a população acerca de perigos a que possam estar expostos de modo a poder evitar acidentes, por outro lado podem dar passar uma ideia exagerada e desproporcional do risco que pode criar pânico desnecessário.
Nesse âmbito, poderá aceder através do botão em baixo, a notícias publicadas em meios de comunicação internacional acerca de casos de intoxicações com acónito. Aconselha-se o leitor a usar a informação para estar mais alerta do risco representado por esta planta, mas relembra-se que o número de intoxicações registadas é muito baixo.
REFERÊNCIAS
1. Singhuber J, Zhu M, Prinz S, Kopp B. Aconitum in traditional Chinese medicine: a valuable drug or an unpredictable risk? J Ethnopharmacol. 2009;126(1):18-30.
2. Liu Q, Zhuo L, Liu L, Zhu S, Sunnassee A, Liang M, et al. Seven cases of fatal aconite poisoning: forensic experience in China. Forensic Sci Int. 2011;212(1-3):e5-9.
3. Abbott A. Survey questions safety of alternative medicine. Nature. 2005;436(7053):898.
4. Chan TY. Causes and prevention of herb-induced aconite poisonings in Asia. Hum Exp Toxicol. 2011;30(12):2023-6.
5. Bryant S, Singer J. Management of toxic exposure in children. Emerg Med Clin North Am. 2003;21(1):101-19.
6. http://www.lowchensaustralia.com/health/herbintox.htm (Acesso a 26-05-2015)
7. Chan TY. Aconite poisoning following the percutaneous absorption of Aconitum alkaloids. Forensic Science International. 2012; 223:25-27
8. http://www.inchem.org/documents/pims/plant/aconitum.htm#SectionTitle:9.2 Chronic poisoning (Acesso a 04-06-2015)
9. http://www.unimed.coop.br/pct/index.jsp?cd_canal=49146&cd_secao=-1&cd_materia=36015 (Acesso a 04-06-2015)