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História do Acónito

Existem várias referências históricas ao acónito.

 

Várias espécies de acónito foram usadas como veneno para flechas que seriam usadas na caça ou em guerras: determinadas populações do Ladakh (região situada na Índia) usavam flechas com Aconitum napellus para caçar cabras dos alpes; os aleútes (povo indígena das ilhas Aleutas perto do Alasca) usavam-no na ponta de lanças para caçar baleias; os Ainu, no Japão, por sua vez usavam o veneno de diversas espécies de acónito para caçar ursos. (1) As raízes de Aconitum ferox eram usadas como um veneno nepalês chamado de Bikh ou Nabee. Os indianos usavam esse veneno para contaminar poços de água e assim parar o avanço de exércitos inimigos ou para matar tigres. (6)

Figura 2: Locais onde eram usadas flechas com acónito

Retirado de: Heizer RF. Aconite arrow poison in the Old and New World. Journal of The Washington Academy of Sciences. 1938; 28(8):358-364

Disponível em: http://www.washacadsci.org/Journal/Journalarticles/V.28-8-Aconite%20Arrow%20Poison%20in%20the%20Old%20and%20New%20World.Robert%20F.%20Heizer.pdf

Historicamente a planta era usada para matar lobos, daí um dos seus nomes em inglês ser wolf’s bane (“veneno dos lobos”). Em De Materia MedicaDioscorides (um autor greco-romano do século I D.C., considerado por muitos o pai da farmacognosia) descreve Aconutium lycoctonum e indica que este era usado como um analgésico em formulações oftálmicas bem como para matar panteras, lobos e outros animais selvagens. Também fala do Aconitum napellus referindo que é venenoso e usado para matar lobos. Por sua vez, Theophrastus, um filósofo grego indica que dependendo da composição da planta o efeito pode ser imediato ou pode demorar vários meses e até mesmo 1 ou 2 anos para ser fatal, sendo que quanto mais tempo demorasse, mais dolorosa seria a morte. (2)

Figura 3: Dioscorides (40-90 A.C.) o pai da Farmacognosia

Retirado de: http://www.general-anaesthesia.com/people/dioscorides.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nicandro, um poeta grego do século II A.C., refere-se ao acónito num dos seus poemas como o “assassino das mulheres”, o que reflecte o facto de na época se pensar que as mulheres eram mais susceptíveis à ação tóxica da planta.

Plínio, um naturalista romano do século I D.C., escreve que o acónito é dos venenos que atua mais rapidamente bastando colocá-lo em contacto com os genitais de qualquer “criatura feminina” para a morte ocorrer de imediato. Conta ainda a história de Calpúrnio Béstia que foi acusado por Marcus Caelius de ter assassinado as suas esposas, enquanto elas dormiam, por ter aplicado a planta na vulva. (2)

 

A história do acónito está intimamente relacionada com a época dos gregos e dos romanos, visto que nessa altura era tido como um bom método de envenenamento por ser relativamente desconhecido e por isso “indetetável”. No entanto, com a evolução da medicina, o seu uso como veneno começou a diminuir. (5)

 

 

 

 

 

 

 

Segundo a mitologia grega, o acónito descende da boca de Cerberus, o cão de três cabeças que guardava as portas do inferno. John Blaisdell, um historiador veterinário, notou que os sintomas de envenenamento por acónito são similares aos sintomas da raiva: espumar pela boca, dificuldades de visão, vertigens e coma. É possível que os gregos acreditassem que este veneno que supostamente teria derivado da boca de Cerberus seria o mesmo que se encontrava na boca de um cão com raiva. (1)

Outras referências mitolológicas feitas pelo poeta Ovid na sua obra-prima Metamorfoses incluem aquela em que Atena transformou Aracne numa aranha após a ter pulverizado com acónito. É dito ainda que a feiticeira Medea tentou envenenar o herói Theseus oferecendo-lhe um copo de vinho com acónito.

Ainda dentro da história mitológica, acreditava-se que o acónito e a beladona eram os dois ingredientes da poção para voar que as feiticeiras tomavam: o acónito seria responsável por causar um ritmo cardíaco anormal do coração e a beladona provocaria delírios, sendo que os dois em conjunto davam uma sensação de voar.

Figura 4: Cerberus.

Retirada de: http://www.paranormal-encyclopedia.com/c/cerberus/

Figura 4: Medea

Retirada de: http://en.wikipedia.org/wiki/Medea

Além da mitologia, parece haver evidências de que o acónito foi usado em alguns envenenamentos. É postulado que o imperador romano Claudius foi envenenado pela sua esposa Agrippina com aconitina. A intoxicação por aconitina causa sintomas que podem ser facilmente confundidos com um derrame cerebral, mas estão geralmente associados a fortes dores.(3)

Com base nos sintomas descritos em documentos históricos, nomeadamente no antigo testamento da Bíblia, há também quem postule que Alkimos, um sumo-sacerdote israelita que morreu subitamente em 156 AC, foi também envenenado com esta planta. (4)

Figura 5: Claudius e Agrippina

Retirada de:https://www.flickr.com/photos/julio-claudians/2172143511

Entretanto, atualmente pode-se encontrar várias referências ao acónito na cultura popular (1):

  • Na temporada 7 da série Dexter, a personagem Hannah McKay usa o acónito como veneno para matar as suas vítimas.

  • No episódio 9 da temporada 3 de American Horror Story, a personagem Myrtle Snow envenena os seus colegas num jantar.

  • Em Harry Potter, o acónito é tido como uma planta venenosa que é ingrediente de uma poção que os lobisomens alegadamente usariam para manter a sua racionalidade e consciência quando se transformavam em lobos.

  • Na série Diários do Vampiro, o acónito é usado para debilitar lobisomens.

  • Em NCIS: Los Angeles, a personagem Owen Granger e os membros da sua equipa são envenenados com acónito.

Figura 6

Figura 7 - "Acónito, o veneno das flechas". Pequena infografia de curiosidades sobre o acónito. 

Retirado de: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2022449/Bungling-council-staff-plant-deadly-Amazon-arrow-tip-poison-flower-children-s-playground.html 

REFERÊNCIAS

 

1.   http://en.wikipedia.org/wiki/Aconitum (Acesso em 04-06-2015)

 

2.    http://penelope.uchicago.edu/~grout/encyclopaedia_romana/aconite/aconite.html (Acesso em 04-06-2015)


3.   Singhuber J, Zhu M, Prinz S, Kopp B. Aconitum in traditional Chinese medicine: a valuable drug or an unpredictable risk? J Ethnopharmacol.       2009;126(1):18-30.

 

4.   Moog FP, Karenberg A. Toxicology in the Old Testament. Did the High Priest Alcimus die of acute aconitine poisoning? Adverse Drug React           Toxicol Rev. 2002;21(3):151-6.

 

5.    http://io9.com/5942161/the-deadliest-poisons-in-history-and-why-people-stopped-using-them (Acesso em 04-06-2015)

 

6.    http://botanical.com/botanical/mgmh/a/aconi007.html (Acesso em 04-06-2015)

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